ERA UMA VEZ O CINEMA


Perdidos na Noite (1969)

cover Perdidos na Noite

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País: USA, 113 minutos

Titulo Original: Midnight Cowboy

Diretor(s): John Schlesinger

Gênero(s): Drama

Legendas: Português,Inglês, Espanhol

Tipo de Mídia: Cópia Digital

Tela: 16:9 Widescreen

Resolução: 1280 x 720, 1920 x 1080

Avaliação (IMDb):
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7.8/10 (98146 votos)

DOWNLOAD DO FILME E LEGENDA

PRÊMIOS star star star star star

Academia de Artes Cinematográficas de Hollywood, EUA

Oscar de Melhor Filme

Oscar de Melhor Direção (John Schlesinger)

Oscar de Melhor Roteiro Adaptado (Waldo Salt)

Academia Britânica de Cinema e Televisão, Inglaterra

Prêmio de Melhor Filme

Prêmio de Melhor Roteiro Adaptado (Waldo Salt)

Prêmio de Melhor Edição (Hugh A. Robertson)

Prêmio de Melhor Direção (John Schlesinger)

Prêmio de Melhor Ator (Dustin Hoffman)

Prêmio de Melhor Revelação Masculina (Jon Voight)

Círculo dos Críticos de Cinema de Nova York, EUA

Prêmio de Melhor Ator (Jon Voight)

Festival Internacional de Berlim, Alemanha

Prêmio OCIC (John Schlesinger)

Prêmios Globo de Ouro, EUA

Prêmio de Melhor Revelação Masculina (Jon Voight)

Prêmios David di Donatello, Itália

Prêmio de Melhor Direção de um Filme Estrangeiro (John Schlesinger)

David de Melhor Ator Estrangeiro (Dustin Hoffman)

Sindicato dos Jornalistas Críticos de Cinema, Itália

Prêmio Fita de Prata de Melhor Diretor de Filme Estrangeiro (John Schlesinger)

Prêmios Bodil - Copenhague, Dinamarca

Bodil de Melhor Filme Não Europeu (John Schlesinger)

Grêmio dos Diretores da América

Prêmio por Direção Excepcional (John Schlesinger)

Grêmio dos Roteiristas da América

Prêmio de Melhor Drama adaptado de material previamente publicado (Waldo Salt )

Círculo dos Críticos de Cinema de Kansas City, USA

Prêmio de Melhor Filme

Prêmio de Melhor Direção (John Schlesinger)

Sociedade Nacional dos Críticos de Cinema dos Estados Unidos

Prêmio de Melhor Ator (Jon Voight)

Sinopse: Primeiro filme da chamada “nova Hollywood” a vencer o Oscar de melhor filme, “Perdidos na Noite” é um bom (não o melhor) representante do movimento, que mostra de maneira realista a dificuldade de adaptação de um jovem interiorano ao clima hostil e agitado da cidade grande. Dirigido por John Schlesinger, o longa estrelado por Jon Voight traz ainda em seu elenco a grande estrela da época, o talentoso Dustin Hoffman, se afirmando como um dos filmes icônicos daquele celebrado período.

Jovem texano inocente e caipira, Joe Buck (Jon Voight) larga o emprego e parte, com seu estilo cowboy, para tentar ganhar a vida na cidade de Nova York, trabalhando como garoto de programa de mulheres mais velhas e ricas. Ao chegar ao local, faz amizade com um marginal plenamente adaptado à cidade chamado Ratso Rizzo (Dustin Hoffman) e descobre o lado nada hospitaleiro e cruel da vida nas grandes metrópoles.

Escrito por Waldo Salt, baseado em livro de James Leo Herlihy, o roteiro de “Perdidos na Noite” acerta o tom ao mostrar, sem floreios e exageros, a dificuldade de se adaptar à cidade grande, um sentimento comum à maioria das pessoas que não nasceram nestes locais. Somente quem já viveu a sensação de chegar a uma cidade grande pela primeira vez sabe como é, ao mesmo tempo, empolgante e assustador.

A ousadia temática da narrativa (jovem larga o interior para ser garoto de programa em Nova York) era uma das características da chamada “nova Hollywood” e o longa de Schlesinger não foge a regra. Mas apesar do tema sombrio, existe espaço para pequenos alívios cômicos, como na cena em que Rasto finge ser engraxate (repare como a posição da câmera colabora sutilmente, mostrando a chegada dos sapatos do terceiro homem e provocando o riso no espectador).

O filme aborda o tema do choque cultural já na viagem até Nova York, quando Joe tenta puxar assunto no ônibus com o motorista e com uma moça e ambos não correspondem. Até mesmo a luz do ônibus que lhe incomoda ele não pode apagar, pois a senhora sentada ao seu lado não deixa.

A viagem é nostálgica, repleta de flashbacks que lembram a todo instante tudo que ele está deixando pra trás (a avó, a casa em que cresceu, a namorada), e é pontuada pela trilha sonora deliciosa de John Barry (um country, condizente com à história do cowboy que sai da cidade pequena e parte para a cidade grande). Esta trilha inicialmente alegre faz um contraponto interessante com o tom melancólico da chegada à Miami, combinando perfeitamente com o sentimento de Joe, já completamente transformado pela vida.

Na direção, Schlesinger mostra criatividade, por exemplo, na cena em que ilustra a primeira relação sexual de Joe através da velocidade na troca de canais e da imagem das moedas na televisão, revelando também o bom trabalho de montagem de Hugh A. Robertson. A montagem de Robertson, aliás, também demonstra como a infância tem peso na fase adulta de Joe, intercalando imagens dele ainda criança com imagens atuais enquanto assiste televisão, além de auxiliar na indicação da passagem do tempo com elegância, por exemplo, inserindo um plano com água congelada numa torneira que simboliza a chegada do inverno.

Já quando Joe e Ratso são expulsos do hotel, Schlesinger utiliza a câmera para demonstrar a tristeza de ambos, diminuindo-os na tela e mostrando como eles estão impotentes diante daquela situação. Ainda na parte técnica, a direção de fotografia de Adam Holender progressivamente muda do tom claro e alegre do início para o obscuro e sombrio visual que domina a tela na metade da projeção, refletindo a mudança no estado de espírito de Joe – repare que até mesmo as cenas noturnas passam a dominar o longa na medida em que a narrativa avança.

Além disso, a fotografia demonstra o sentimento de Joe, por exemplo, na cena em que ele sai desesperado à procura de Ratso, com imagens em preto e branco embaladas pela trilha sonora alucinada, ou em seu pesadelo, repleto de imagens surreais, ilustrando o quanto ele está atormentado naquele ambiente. Já quando os dois se imaginam na praia, as cores quentes e a forte luz do sol refletem a alegria daquele pensamento (e neste momento, vale destacar o sorriso sutil, no canto da boca, do ótimo Dustin Hoffman). Vale destacar ainda a típica festa dos anos 60 que determina o destino de Ratso e Joe, repleta de imagens surreais, alucinações e pessoas de estilos diferentes.

E aqui novamente a fotografia é importante, pois no momento em que eles conversam com uma determinada mulher, o predomínio do tom vermelho indica o destino infernal da dupla. Em seguida, Ratso sofreria uma queda violenta na escada e Joe teria dificuldades numa relação sexual, o que para um “garoto de programa” pode ser considerado algo grave. Finalmente, também merece destaque a maquiagem em Hoffman, que reflete através de sua sujeira o quanto Ratso foi maltratado pela vida.

Ratso, aliás, que é a síntese da dificuldade que muitos encontram para sobreviver nas grandes cidades. Interpretado de maneira brilhante por Hoffman, o personagem literalmente rasteja por Nova York, sugando tudo que está ao seu alcance para conseguir sobreviver.

Hoffman confirma o grande ator que é numa atuação convincente, compondo detalhadamente o personagem, através da voz anasalada, da fala rápida, da forma de caminhar, que progressivamente se torna mais lenta devido à evolução de sua doença, misturando a tosse que lhe castiga com o sorriso de quem já se adaptou a realidade daquela vida. Ratso, com o perdão do trocadilho, é um verdadeiro rato de cidade grande, que não tem vergonha de fazer tudo que pode para sobreviver, chegando a roubar e enganar outras pessoas.

E até mesmo seu apartamento no hotel demonstra o estado em que ele sobrevive naquele mundo, mostrando-se um local sujo e escuro, que freqüentemente o esconde sob as sombras. Não por acaso, suas cenas são predominantemente obscuras e as ruas que percorre são sujas e feias, o que reflete a vida difícil que ele leva e reforça o bom trabalho de direção de arte e fotografia. Pra completar, sua atuação ainda tem a célebre frase “Estou andando aqui!”, quando Ratso atravessa uma rua e quase é atropelado, que marcou o cinema para sempre. Já Joe Buck é o típico jovem do interior.

Joe chega à cidade de peito aberto, destemido, caçando mulheres como um verdadeiro predador, achando que as oportunidades aparecerão facilmente, algo ilustrado também pela câmera de Schlesinger, que filma Joe em ângulo baixo, refletindo seu sentimento de grandeza em sua chegada. Mas o tempo mostrará que a vida nas grandes cidades não é tão acolhedora assim, como ele pode perceber logo em seus primeiros minutos em Nova York, vendo um homem caído e as pessoas, arredias, seguindo seu caminho, sem sequer dar atenção ao pobre coitado. John Voight compõe o personagem de maneira durona, algo coerente com sua origem, e vive seu grande momento na bela cena em que Joe e Ratso gargalham no ônibus a caminho de Miami.

Quando Joe chega ao fundo do poço, se relacionando com um homem por dinheiro (o que lhe traz a imediata lembrança da namorada que ele deixou pra trás em busca da vida na cidade grande), o ator convence ao transmitir com exatidão a aflição do personagem. E existe ainda um momento sutil, porém marcante, que demonstra quando ele começa a perceber que nem todos têm oportunidade naquela terra, quando Joe, assustado, contempla a imagem de mendigos e prostitutas vagando pelas ruas de Nova York.

“Perdidos na Noite” representa bem a nova forma de se fazer cinema que tomou conta de Hollywood no final dos anos 60, ousando tematicamente e quebrando as regras convencionais do cinema norte-americano até então. O plano final, com Ratso morto no vidro ao lado do assustado Joe, enquanto este olha para as praias de Miami, demonstra bem a mensagem principal do filme. A vida na cidade grande não é um mar de rosas.

 

Elenco: